14 novembro 2008

Notícia sobre laudo do acidente da TAM mostra tendenciosidade do Globo.com

O laudo do Instituto de Criminalística (IC) sobre a tragédia do Airbus A320 da TAM, em julho do ano passado, deve apontar que houve falhas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), da Infraero e dos pilotos. O documento será entregue no início da próxima semana. A Anac e a Infraero, empresa estatal responsável por aeroportos do país, devem ser citadas no laudo por não terem medido com aparelhagem correta o coeficiente de atrito da pista de Congonhas momentos antes do pouso do avião. A medição foi apenas visual. Apesar de não ter influenciado diretamente no acidente, a falta dessa informação pode ter contribuído para os pilotos ficarem mais inseguros na hora da aterrissagem.

O comandante Kleyber Lima e o co-piloto Henrique Di Sacco, que também morreram no acidente, devem ser citados por não terem percebido que as manetes da aeronave estavam em posição contrária, o que fez o avião virar para a esquerda e sair da pista. As manetes são uma espécie de acelerador do avião. No Airbus, a manete direita estava na posição climb (acelerar) e a esquerda estava na posição reverso (frear).

O laudo do IC tem cerca de 700 páginas e mais de 2.500 de anexos. O documento afirmará ainda que os pneus do avião e quantidade de água que havia na pista não foram determinantes para o acidente. Garoava no momento da tragédia.

O inquérito policial será concluído nas próximas semanas, responsabilizando entre sete e 10 pessoas pelo acidente que matou 199 pessoas em julho do ano passado. A ex-diretora da Anac, Denise Abreu, deve ser uma das indiciadas.

O fato de a agência ter proibido, a partir de 1º de abril deste ano, que as aeronaves do modelo Airbus A320 pousem em Congonhas com reverso (sistema auxiliar de freio) travado também deve ser destacado no inquérito. Na ocasião, o avião pousou com o reverso da turbina direita travado.


Comentários:

A primeira linha já mostra a tendenciosidade do Globo.com. Vejam que ela inclui os pilotos como responsáveis e não só a ANAC e a Infraero, ao contrário do título da matéria que fala apenas destes dois órgãos.

Não destacam no primeiro parágrafo o que teria sido de fato o elemento causador do acidente - que aparecerá no segundo parágrafo - as posições das manetes, o que fez que o avião acelerasse ao invés de frear. Costumo dizer àqueles que gostariam que a ausência de ranhuras na pistas fosse a verdadeira causa do acidente, que mesmo que tivéssemos "quebra-molas" na pista, ainda assim o avião não pararia, porque ele estava sendo acelerado, ao invés de freado.

Risível é a tentativa de responsabilizar a ANAC e a Infraero tentando relacionar a ausência de medição com a consequente insegurança dos pilotos. Vejamos o que diz o texto no primeiro parágrafo: "Apesar de não ter influenciado diretamente no acidente, a falta dessa informação pode ter contribuído para os pilotos ficarem mais inseguros na hora da aterrissagem."

Quer dizer que os pilotos (há quem diga que eram dois comandantes, com milhares de horas de voo) ficariam inseguros com ausência de medição da ANAC e da Infraero, mas estariam completamente seguros em pilotar um gigante A-320, com o reversor pinado, e pousá-lo na curta pista de Congonhas, com garoa? Nem minha neta de uma ano achou plausível esse argumento do Globo.com, quando li a matéria para ela.

O escândalo que é a tendenciosidade do Globo.com fica patente no terceiro parágrafo, onde está escrito que "O documento afirmará ainda que os pneus do avião e quantidade de água que havia na pista não foram determinantes para o acidente. Garoava no momento da tragédia."

Ou seja, para aqueles que quiseram politizar essa tragédia, visando o desgaste do Governo Lula, está claro que não foi a chuva, nem a ausência de "grooving" - este motivo seria o único de responsabilidade da Infraero e da ANAC - foram determinantes. Até porque, naquele dia, pousaram 38 aeronaves por hora, sem problema algum. Mais de 400, portanto, até a hora do acidente da TAM.

Mas o Globo.com não pode simplesmente dizer que determinante foi a ação errada dos pilotos e o fato de que o reversor estava pinado. Os pilotos poderiam ter se recusado a voar com o avião naquelas condições de vulnerabilidade, o que obrigaria a enviá-lo imediatamente para a manutenção.

E o Globo.com não pode dizer a verdade porque, na ocasião do acidente, visando desgastar o Governo Lula, o Globo e toda a grande imprensa deram destaque para a ausência de "grooving", como fator determinante. Quem consultar os jornais, vídeos do Jornal Nacional e de outras emissoras, sites da Internet, revistas, constatará que o Governo Lula era apontado como o único responsável pelo acidente.

Lembrar que esta mesma grande imprensa cunhou o "caos aéreo" que, como cansamos de demonstrar com números, não passou de alguns momentos críticos frutos dos dois acidentes - Gol e TAM -, o primeiro de responsabilidade dos controladores de vôo e do piloto do Legacy, e o segundo de responsabilidade da empresa e dos pilotos. Pela possibilidade de incriminação no primeiro acidente, os controladores desenvolveram uma série de ações, visando mostrar que a culpa era do governo e não deles. O que conseguiram, até certo ponto, com a cumplicidade e estímulo da grande imprensa.

Logo, confessar que não houve fator determinante para o acidente, pela ação da ANAC e da Infraero, seria confessar que eles politizaram, da forma mais mesquinha que poderia ser feita, uma tragédia que mexeu fortemente com mentes e corações de um mundo de gente, além de ter afetado diretamente todos os familiares, amigos e colegas dos passageiros e tripulantes daquele fatídico voo.

Por José Augusto Valente no Logística e Transporte

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