O homem-bomba que vivia às sombras da governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, Marcelo Cavalcante, era uma espécie de caixa-preta do governo riograndense. O corpo de Marcelo apareceu boiando às margens do Lago Paranoá na cidade de Brasília. Foi no dia 17 de fevereiro de 2009 que sua concubina Magda Koenigkan se envolveu numa teia alimentada por corrupção política e encoberta por um suposto esquema policial. Magda, desde o seu primeiro depoimento, sustenta a tese do suicídio. O exame de corpo de delito realizado em Marcelo não dava solução para o caso. Foi assim que se iniciou uma história cheia de contradições e indícios de homicídio. O suicídio é conveniente para a “viúva” Magda, para a governadora, para o vice-governador e para o lobista Lair Ferst.
O que desperta a atenção foi o fato de agora, depois de um ano e cinco meses, a viúva afirmar que às vésperas de o corpo ser encontrado, ela entrou em contato com a delegada Sandra Maria da Silveira, hoje delegada-adjunta da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), amiga e confidente. Logo após o telefonema à delegada, Magda levou para sua casa no Lago Sul, o Corolla, placas HGS-1116, de propriedade de Marcelo Cavalcante, que estava estacionado junto à ponte JK.
A delegada Sandra sugeriu que o automóvel fosse transferido do local para a residência de Magda. Atitude inconcebível após um suposto crime. O carro jamais poderia ter sido retirado do local ou até mesmo tocado antes da perícia ser realizada. Tendo em vista que Magda teria afirmado em seu depoimento do dia 20 de fevereiro de 2009, que recebera mensagens suicidas por meio do celular remetidas supostamente por Marcelo. Magda estranhamente levou o carro para sua residência onde só, no dia seguinte, quando apareceu o corpo, é que a polícia realizou a perícia.
A irmã de Magda, Marisa, disse a um irmão da vítima, Marcos Cavalcante, que Magda tinha que ter retirado o carro, porque documentos deixados no porta-malas do veículo poderiam provocar o “impeachment” da governadora Yeda. Marcos acompanhou a perícia do corpo quando foi localizado no lago bem como a perícia do veículo, que foi conduzido à residência de Magda. Marcelo ocupava o cargo de representante do estado de Rio Grande do Sul, até junho de 2008.
A revista eletrônica Quid Novi teve acesso aos autos que correm em segredo de Justiça, detectando falhas gravíssimas na investigação, omissão de testemunhas e falta de depoimento de pessoas que poderiam colaborar para elucidar a história.
A Polícia Federal manifestou interesse nos resultados das investigações. O superintendente da PF do Rio Grande do Sul, Ildo Gasparetto, solicitou os dados, um dia depois de integrantes do PSOL denunciar um suposto esquema de corrupção de “Caixa Dois”, com o objetivo de financiar a campanha da governadora Yeda Crusius. Quando aconteceu o “suicídio” havia a investigação de um escândalo dentro do Detran-RS, com desvio de dinheiro no valor de aproximadamente R$ 44 milhões. O vice da governadora Yeda, Paulo Feijó, filiado ao DEM, e interessado em tirar Yeda do poder utilizou de “arapongagem” para gravar diálogos que comprometeriam a base do governo, em junho. Momento em que Marcelo deixou o cargo na representação do governo gaúcho. Na época da sua morte, Marcelo trabalhava como assessor parlamenta r do deputado Cláudio Diaz (PSDB-RS), forte aliado de Yeda.
O veículo do Marcelo foi localizado na ponte JK no dia 16 de fevereiro de 2009. Segundo o depoimento do filho de Magda, Leandro Cunha Simões, ele retornava da faculdade por volta das 11h30 e avistou o veículo Corola, de propriedade de Marcelo. O Corolla, que se encontrava fechado, foi reconhecido prontamente por Leandro, que se dirigiu a sua casa e perguntou a sua mãe, “Mãe, porque o carro do Marcelo está lá na ponte?” Ela respondeu: “Corre lá porque ele está fazendo drama e disse que iria se suicidar.” Leandro afirmou que ficou apreensivo “quase em pânico” ao saber da informação de que Marcelo teria enviado supostas mensagens suicidas no sábado, 14, e domingo, 15 de fevereiro de 2009.
Durante a perícia do automóvel de Marcelo, foram encontrados, uma carteira com documentos pessoais e dinheiro no porta-luvas, uma pasta com documentos no porta-malas, um pano vermelho envolvido em substância tóxica no console do veículo. Não havia nenhum vestígio de violência no interior do automóvel.
No depoimento de Leandro, ele afirmou não ter encontrado pasta com documentos dentro do porta-malas do veículo. No entanto, no dia 17 de fevereiro, quando foi realizada a perícia, posterior à data de localização do veículo, no dia 16, a valise se encontrava no porta-malas.
Outro dado curioso também foram os telefonemas disparados pela filha de Marcelo, Marcela Cavalcante e outras pessoas que tentaram contato com Marcelo. Um dos telefonemas foi de Newton Coelho Barros, o Careca, amigo de Marcelo, que o teria avistado na ponte com uma lata de cerveja na mão, quando transitava com seu veículo. Em depoimento, Coelho Barros afirma que retornou para encontrar com o amigo com o qual “não conversava fazia tempo”. Estacionou o seu veículo à frente do Corolla de Marcelo, descendo em seguida para se aproximar do carro com cuidado para não tocá-lo. Careca afirmou em depoimento que não sabia informar se as portas estavam ou não trancadas e nem percebeu se havia algo dentro do carro.
Entre 16h30 e 17h00, Careca encontrou-se com um amigo num grande shopping de Brasília, e contou que havia visto Marcelo na ponte JK. Em seguida, Careca tentou contatar Marcelo pelo celular várias vezes. Porém, a ligação não era atendida, chamava diversas vezes e não era atendida. Não estava nem desligado e nem tampouco se encontrava fora de área de serviço. Fato este que comprova que naquele período Marcelo estaria vivo, já que os dois celulares foram encontrados nos bolsos de sua calça. A polícia civil especulou que o horário do suicídio de Marcelo ocorrera aproximadamente às 14h05. O horário das ligações realizadas por Careca para Marcelo denota que Marcelo ainda se encontrava vivo, naquele horário. O que, para Marcos, derruba a tese da Polícia Civil.
Ricardo Braga, que também se encontrou com Marcelo naquele domingo, em seu depoimento no dia 27 de março de 2009, afirmou ter feito contato com Marcelo no bar Só Drink’s, localizado na quadra 403 da Asa Norte, por volta das 12h00 ou 13h00, aproximadamente. Lá esteve com Marcelo e descreveu como o seu amigo estava há cerca de uma hora antes do suposto suicídio. Segundo o depoimento, Marcelo “trajava óculos escuros, camisa esporte de manga comprida, predominantemente branca em listras azuis empalidecidas, trajando também calça jeans na cor azul, não sabendo precisar se usava tênis”. Ainda de acordo com Braga, Marcelo estava desacompanhado “não aparentando estado de depressão ou ansiedade, estando tranqüilo, em atitudes normais”. Braga conta que Marcelo o cumprimentou. “Como vai Dr. Ricardo?, sem qualquer mudan&ccedi l;a de comportamento, ou seja, da mesma forma normal como cumprimentava o depoente”, registra o depoimento.
No depoimento, Braga salientou também que Marcelo estaria pensando em passar o Carnaval no Rio de Janeiro à convite do prefeito Eduardo Paes (PMDB-RJ). Quando Marcelo disse que programava a viagem, recebeu um telefonema, mas não soube precisar com quem Marcelo conversava e nem o assunto tratado. Braga destaca em seu depoimento que Marcelo desligou o telefone, “não tendo notado qualquer alteração por parte dele”. Na sequência, Braga afirmou ter-se despedido de Marcelo e ido para sua residência.
Marcos Cavalcante ressalta que há depoimentos que não foram considerados pelo Ministério Público e Polícia Civil. Outro depoimento a que Marcos e seu pai tiveram acesso é o de Jaqueline de Cássia Ferreira de Resende, amiga de infância de Lílian Cristini do Nascimento Secundo, ex-mulher de Marcelo. Jaqueline, durante o depoimento, relata que “Marcelo não aparentava estar embriagado, tendo conversado amigavelmente com a depoente, falando sobre a filha dele, de nome Marcela, que ele disse ter sido muito bem educada por Lílian; QUE quando avistou Marcelo, o mesmo estava sozinho, e em determinado momento, ele sentou-se em uma roda de pagode e chegou a tocar algum instrumento; QUE a depoente saiu do bar antes de Marcelo, acreditando ter se retirado por volta de 22h00”.
Para Marcos Cavalcante e sua família, dois depoimentos reforçam a tese de que Marcelo não deve ter enviado torpedos com teores suicidas, sendo três no sábado, 14 e quatro domingo, 15, respectivamente, datas em que Marcelo foi visto por Jaqueline e Ricardo Braga. “O depoimento da Jaqueline e de Ricardo Braga são importantíssimos para consubstanciar que Marcelo não aparentava em momento algum tanto no sábado, suposta véspera de sua morte, quanto no domingo, qualquer postura de alguém que estivesse sequer pensando em suicídio. Isso é inadmissível que tenha sido ignorado pelo trabalho de investigação do MPDFT e Polícia Civil.”
O corpo de Marcelo foi encontrado com a camisa tendo os botões abotoados, por dentro calça; cinto afivelado; par de tênis firmemente calçado. Magda não quis verificar o corpo de Marcelo. Foi o pai da “viúva”, que contou a ela sobre um hematoma em ambas as faces, acreditando que fosse até uma agressão. Fato que Magda omitiu ao longo de seus depoimentos à polícia. “Meu pai, quando viu, disse: ‘bateram no Marcelo’”, disse Magda a deputados na Assembléia Legislativa no dia 9 de julho de 2009. A “viúva”, não menciona em seus dois primeiros depoimentos que soubesse de suposta agressão sofrida por Marcelo. Os dois telefones celulares estavam nos bolsos da calça de Marcelo.
Segundo o irmão de Marcelo, Marcos Antonio Oliveira Cavalcante, que presenciou a perícia no corpo, quando foi retirado do lago, observou uma mancha no rosto de Marcelo. “Quando olhei a face de Marcelo, vi um grande hematoma. Ao qual de pronto, questionei o perito sobre a possível causa. Ele me disse que poderia ter sido o impacto com a água. Posteriormente, procurei outro perito criminal. E perguntei se o hematoma que se estendia de um lado a outro da face poderia ser provocado por uma suposta queda na água da altura da ponte JK. Ele respondeu que uma pancada após uma queda de 25 metros causaria fratura exposta na face”, ressalta Marcos.
O irmão de Marcelo destacou que seu irmão não sabia nadar. “Quando ia à praia ficava com a água até o joelho. Inclusive nem entrava em piscinas”, diz.
Magda, logo após o enterro de Marcelo em conversa com um interlocutor ao telefone, comentou que Marcelo “nada muito”. O cunhado de Marcelo, Carlos Jansen Jr., ao presenciar Magda afirmando que ele sabia nadar muito, bateu no ombro de Magda para lembrar que Marcelo não sabia nadar. No entanto, Magda reafirmou, pela segunda vez, ao telefone, que Marcelo “nada muito”. Em depoimento do dia 17 de março de 2009, Magda, disse “não sabe informar se MARCELO sabia nadar”. Um detalhe. O cunhado de Marcelo não prestou depoimento à Polícia Civil.
MARCELO NÃO USAVA TORPEDO
Marcelo era avesso a mensagens via Internet, manusear celular para enviar torpedos. Magda em entrevista ao programa de rádio, “Agora”, da rede Record do Rio Grande do Sul, em 12 de maio de 2009, afirmou ao ser questionada sobre manuscritos de Marcelo em seu poder, que poderiam comprometer os governantes atuais do Rio Grande do Sul, respondeu: “Obviamente para entrar numa esfera dessas, você não pode ir descoberto. É lógico que eu tenho as minhas cartas na manga. O Marcelo não sabia bater no computador, ele não sabia mexer com e-mails, então ele precisava de assessoria. Então eu ajudava ele em algumas coisas”. Magda quando fala em cartas na manga, pretende sutilmente avisar que possui gravações perigosas, além dos trechos já vazados à imprensa.
Magda costumava carregar o telefone de Marcelo, inclusive para viagens interestaduais. Além disso, também enviava mensagens a partir do aparelho de Marcelo com bastante frequência, fato esse comprovado nos autos do processo. O intrigante, enfatiza Marcos, “é terem sido registradas sete mensagens do aparelho de Marcelo para o aparelho de Magda com teor suicida, sendo três mensagens no sábado e quatro no domingo. Mensagens suicidas à prestação”. Comportamento atípico para um suicida.
Marcos, diferentemente do que Magda afirmara em entrevistas, diz que sua sobrinha, filha de Marcelo, de 16 anos, atualmente, e com 14, à época, não recebeu nenhuma mensagem com teor suicida do telefone celular de seu pai. Fato esse que pode ser constatado no inquérito policial.
Vale lembrar que Marcelo possuía dois aparelhos de celular, um de uso profissional, da Câmara e outro pessoal. Constam no inquérito ligações de um dos celulares para ou outro. Marcos e sua família, ao ter tido acesso aos autos estranhou a quantidade excessiva de torpedos enviados pelo celular de Marcelo somente para o celular de Magda. Excetuando-se algumas mensagens de Magda para amigos e parentes.
CAUSA INDETERMINADA
O resultado do laudo de exame de corpo de delito cadavérico nº 06739/09 concluiu que a morte de Marcelo foi de causa “indeterminada”. Um segundo laudo apontou que a morte se deu de forma paulatina. Para Magda, isso reforça a tese de que houve um homicídio. Apesar de ela acreditar que se tratou de um assassinato, incoerentemente, nos depoimentos prestados à Polícia Civil, sempre sustentou sempre se tratar de suicídio.
LAIR E MAGDA
Lair Antonio Ferst é lobista, ex-tesoureiro da campanha de Yeda em 2006, um dos principais acusados pela fraude milionária do Detran-RS. Enquanto Magda afirma ter tido contato apenas duas vezes com Lair, documentos, tais como e-mails trocados revelam outra face da relação entre eles. Um personagem que aparece na relação de Magda e Lair é a braço direito da Magda. A protagonista da interface com Lair. Naira é testemunha de encontros entre Lair e Magda antes e depois de Marcelo ter morrido. Personagem que não consta nos autos do inquérito policial.
Em 2008, Magda procurou Lair para captar recursos e investir um portal na internet. Em e-mails trocados Lair detalha a Magda o custo para implementação do projeto. A empresa que Lair encontrou para prestar o serviço orçou o custo do projeto e o do desenvolvimento do software em R$ 80 mil. As datas de três contatos por e-mail ocorreram respectivamente nos dia 7, 10 e 17 de novembro de 2008. Magda também, em busca de patrocínios, chega a declarar em depoimento à polícia que obteve patrocínio da Petrobras para a revista Sras. & Srs. durante cinco anos.
Apesar de Magda negar o estreito laço de amizade e relação comercial com Lair, ela dissimula em declarações à imprensa. Em 9 de julho de 2009, em entrevista ao programa “Gaúcha Repórter”, da Rádio Gaúcha, Magda conta uma versão de seu relacionamento com Lair. “Olha, eu não posso dizer que eu me dou bem com ele (Lair), porque eu tive dois contatos com ele na minha vida toda. Eu não pensei nisso não. Apesar de que eu gostaria muito de conversar com ele até para falar um pouco sobre assuntos que nunca conversamos. Até para somar as coisas que eu não tenho conhecimento. Por exemplo, o depoimento do Marcelo, o que tem na fita e o que não tem na fita. É meio complicado isso. Uma outra vez que o Lair foi a Brasília, nós até jantamos nesse dia, antes disso ele foi ao meu escrit&oac ute;rio, e foi o Cláudio Diaz, Lair e Marcelo e conversaram sobre essas fitas. Eu tenho o registro da entrada dos dois.”
DELEGADA
O delegado Paulo César, conhecido como PC, foi amante da delegada Sandra. Na época da morte de Marcelo, PC estava lotado na 10ªDP. O curioso é que Sandra também foi transferida da 3ª para 10ª, onde o inquérito tramita, extraordinariamente, há mais de um ano e cinco meses. Sandra é amiga íntima de Magda. E foi transferida recentemente para o posto da Polícia Civil no Paranoá, bairro de Brasília. O que se percebe é que sempre é bom ter amizades no local e hora certas.Os delegados foram flagrados em Salvador no Carnaval de 2009, menos de uma semana após a morte de Marcelo.
A ponta do iceberg desvenda a possibilidade de haver um tráfico de influência entre a polícia e o governo de José Roberto Arruda. Marcos e seu pai, Antonio Cavalcante, agendaram uma audiência com Arruda, em janeiro deste ano. Um assessor em nome do então governador Arruda, disse-lhes que procurassem a delegada Sandra, então lotada na 10ª DP.
Além de não conseguir ter a audiência com Arruda, ficaram mais decepcionados com a dica do assessor. “Imagine ouvir do assessor do governador do DEM, à época, que a solução para os nossos problemas seria procurar a delegada Sandra, amissíssima da ‘viúva’ do meu irmão”.
A condução do inquérito na 10ª DP é no mínimo suspeita. Pontos relevantes não foram investigados e não constam nos autos. Magda se gaba de ter relação de amizade com grandes escritórios de advocacia e jornalistas de renome.
Magda, por exemplo, afirmara em seu depoimento em 20 de fevereiro de 2009, e ratificado em outro no dia 17 de março que Marcelo enviara mensagens com teor suicida. Depoimentos, segundo Marcos Cavalcante, contradizem frontalmente o que Magda tem sustentado e declarado à mídia.
Outra brecha no processo de investigação diz respeito a uma falta de coerência na cronologia dos acontecimentos, ou melhor, na sequência de ligações e torpedos trocados que não batem com informações prestadas no depoimento de Magda no dia 17 de março de 2009.
Salta aos olhos que Magda, no segundo depoimento à Polícia Civil, que ocorreu dia 17 de março, tenha afirmado que no dia 16 de fevereiro “solicitou a seu amigo Sabóia, pela segunda-feira à tarde, 16 fevereiro, após ter encontrado o carro de Marcelo na Ponte e após, que a levasse na lancha dele para que fizessem uma vistoria nas imediações da ponte, porque ficou preocupada ‘ não imaginando em suicídio ’, mas ‘na possibilidade de que estivesse machucado naquelas proximidades ou simulando para chamar a atenção’...”
O incrível, de acordo com Marcos, é que no mesmo depoimento do dia 17 março, Magda ratifica o seu primeiro depoimento prestado no dia 20 de fevereiro, no qual defendeu categoricamente a tese do suicídio. “A contradição está clara tendo em vista Magda ter dito ‘ não imaginando em suicídio ’, no segundo depoimento, não deixando dúvidas das suas declarações descabidas”, reforça Marcos.
Após Marcos ter acesso às contradições incluídas nos autos do processo, causou-lhe espécie que, ao procurar a delegada Naíce Landim Teixeirense, atual responsável pelo inquérito, ela tenha-se negado a consignar seu depoimento. “Foi até enfática ao defender a Magda, quando eu a interpelei com documentos, fatos, fotos e as muitas contradições produzidas pela “viúva” ao longo da investigação. Inclusive elevando o tom de voz no momento em que eu mostrei-lhe várias mensagens enviadas por Magda, mensagens essas assinadas por Magda a terceiros pelo celular do Marcelo.” Marcos garante que a delegada Naíce, jamais consignou qualquer depoimento da família Cavalcante desde que assumiu o inquérito.
PENSÃO POR MORTE
Outro fato que chamou a atenção da família Cavalcante, é que Marcelo e Magda assinaram no dia 23 de setembro de 2008, menos de cinco meses antes do corpo de Marcelo ser encontrado, uma Escritura Pública Declaratória de Reconhecimento de União Estável com Regulação Patrimonial, Livro: 2837-E, Folha: 051, Protocolo: 00203383, registrada no 1º Ofício de Notas de Brasília. A família tomou conhecimento do documento somente após a morte de Marcelo. Na cláusula sétima consta “Pelos declarantes me foi dito ainda que, ressalvada a pensão por morte, ambos renunciam expressa e definitivamente a qualquer direito sobre os bens do outro que a legislação lhes assegure no presente ou que lhes venha a assegurar no futuro, bem como que se responsabilizam civil e criminalmente pela veracidade da presente declaraç ão”.
O delegado-adjunto, Aélio Caracelli, da 10ª DP, hoje lotado na 5ª DP, foi transferido em meio à investigação da morte de Marcelo. O investigador Éder que participava das apurações, juntamente Caracelli chegaram questionar Marcos se não desconfiava da “viúva”. Para Marcos, a suposta operação de blindagem de Magda promoveu significativas alterações no rumo das investigações.
Marcos e sua família entendem que o momento em que foi comunicado o desaparecimento de seu irmão já é estranho por conta da seguinte ordem dos fatos. Marcelo supostamente desapareceu, segundo a polícia, domingo, 15 de fevereiro, por volta das 14h00. Marcos conta que somente soube do desaparecimento de Marcelo na segunda-feira, 16 de fevereiro por volta das 11h30 da manhã, por meio de um telefonema de Magda. Cerca de 20 minutos após a primeira ligação Magda, novamente ligou para Marcos, afirmando que o filho dela, Leandro Cunha Simões, viu o automóvel Corolla, de Marcelo, próximo à ponte JK.
Marcos questiona primeiramente o fato de ter sido avisado por Magda somente no dia seguinte. “É incomum que uma “cunhada” avise do sumiço do meu irmão na segunda-feira, 16, sendo que afirmou ter recebido torpedos com teor suicida já sábado, 14, pela manhã. E no domingo, 15.” Além disso, Marcos acrescenta que não sabia dos torpedos antes do dia 2 de março, “tenho certeza de que os torpedos não foram digitados e nem enviados pelo Marcelo, bem como outros vários torpedos que aparecem no laudo dos celulares”.
Em busca de informações mais detalhadas sobre o monitoramento por meio de imagens realizado pelo Detran-DF na Ponte JK, Marcos se surpreendeu ao descobrir que não havia registro de ninguém se atirando da ponte no domingo à tarde. No local tem duas câmeras de monitoramente colocadas estrategicamente em cada extremidade.
Em meados de março, Marcos compareceu à 10ª DP com o objetivo de verificar as imagens do sistema de monitoramento da ponte. “O delegado Aélio Caracelli me levou até uma sala onde mostrou as imagens referentes à data e horário aproximado ao desaparecimento de Marcelo. Nos trechos apresentados a mim por Caracelli não vi nem o carro de meu irmão passando na ponte naquele horário. Caracelli disse que o equipamento estava apresentando problema de funcionamento, naquele fatídico dia.”
Insatisfeito e notando certo descaso por parte das autoridades policiais da 10ª DP, no Lago Sul, Marcos tomou a iniciativa de ir ao Ministério Público, no final de março. Lá teve acesso a imagens melhor definidas e diferentes daquelas mostradas na 10ª. “Pude observar que o meu irmão caminhava na Ponte JK no sentido Lago Sul-Plano Piloto, do lado direito da ponte. E observei dois dos três arcos da ponte, podendo afirmar que meu irmão já tinha percorrido mais de dois terços da ponte.”
A expectativa de Marcos foi quebrada, quando o promotor Maurício Miranda congelou a imagem e alegou que poderiam ser “pesadas” e ainda justificou que “a família nunca aceita o suicídio”, segundo Marcos. As desconfianças de Marcos aumentaram após ter visto as imagens pela segunda vez. Ele acreditou que pudesse de uma vez por todas ter certeza de que Marcelo não pulara da ponte.
Miranda informou que o promotor Marcelo Leite Borges era quem estava responsável pelo inquérito. Depois de agendar a reunião, na primeira quinzena de abril, Marcos foi recebido por Leite Borges. “Olhando nos olhos do promotor, pedi, prontamente, que ele me mostrasse a sequência das imagens em que meu irmão caminhava pela ponte JK. Ele ficou muito surpreso e afirmou não ter conhecimento daquelas imagens. Aí, já senti que teria muita dificuldade para chegar a uma prova de que meu irmão não se jogou da ponte. Diferentemente do que a linha de investigação quer demonstrar.”
Essa foi a primeira de uma série de visitas que Marcos fez a Leite Borges. Em todas elas, Marcos conta que sempre cobrava o trecho das imagens, ao que o promotor respondia que não havia se encontrado com Maurício Miranda, “que fica em uma sala ao lado da de Leite Borges”.
No dia 2 de julho de 2009, Marcos em sua última visita a Leite Borges, finalmente ouviu do promotor que Maurício Miranda não havia mostrado nenhuma imagem captada pelo sistema de monitoramento da ponte. “Nesse momento me senti impotente na busca pela verdade dos fatos relacionados à morte de meu irmão. E pensei: já devem ter sumido com as imagens do meu irmão na ponte, já que para mim a sequência da imagem não mostraria meu irmão se jogando. Caso as imagens mostrassem meu irmão se atirando da ponte, esse inquérito teria sido encerrado com menos de dois meses de investigação.” Marcos estranha que as investigações se estendam por mais de 1 ano e cinco meses.
Magda conversou com a reportagem do Quid Novi, mas não quis dar entrevista. A delegada Sandra procurada, não foi encontrada. Procurado, o delegado PC não foi localizado.
Por Maurício Nogueira
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